O Novo Inconsciente

Autores

  • Ricardo Amaral Rego Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica

Resumo

Toda a estrutura teórica da psicanálise e seus fundamentos técnicos (associação livre de ideias, atenção flutuante, resistência, transferência, interpretação) repousam sobre a noção de inconsciente, que caracterizou uma nova forma de compreender a mente humana. Wilhelm Reich foi um discípulo de Freud e teve grande participação nas instituições psicanalíticas, tendo escrito artigos e livros sobre psicanálise. Assimilou em sua visão de mundo os fundamentos da proposta freudiana, entre eles o conceito de inconsciente. Em seu percurso após a ruptura com o movimento psicanalítico, ocorrida em 1934, Reich propôs mudanças na teoria e na técnica. Um dos pontos básicos de suas novas formulações foi uma aproximação da Biologia. Isso ocorreu no campo da técnica, por meio da leitura corporal, do toque, de exercícios variados. Seu quadro de referência teórico mostra também essa influência e noções como a de autorregulação ganham importância. Apesar de seu distanciamento da psicanálise, a noção de inconsciente manteve-se como referência importante em suas propostas. Inicialmente o conceito de inconsciente ser visto com ressalvas pelos cientistas, mas, a partir da década de 1980, inúmeras pesquisas trouxeram à tona uma confirmação da ideia de que a psicologia abarca muito mais do que aquilo que aparece na consciência. Conforme Callegaro (p. 27), citando dados de estudos de neurociência, “o processamento inconsciente é cerca de 200 mil vezes maior do que o consciente”. Diversas publicações sobre esta nova visão do inconsciente surgiram recentemente, entre as quais destacamos: O novo inconsciente (Callegaro, 2011), Incógnito (Eagleman, 2012), Subliminar (Mlodinow, 2013). Esse “novo inconsciente” incorpora muitas das descrições e conceitos da psicanálise, tais como resistência, transferência, mecanismos de defesa, a incapacidade da mente consciente de saber das reais motivações do comportamento. Porém, os autores que propõem essa visão apoiam seus pressupostos teóricos em bases muito diferentes daquelas da psicanálise tradicional e são colocadas muitas críticas em relação ao modelo freudiano. Freud é citado com reverência como um pensador importante nesse campo, mas a ideia que se passa nessas obras é de que sua importância se limita a ser um precursor.  Para os profissionais da psicoterapia corporal de inspiração reichiana, os questionamentos trazidos pelo “novo inconsciente” são de grande importância. Por um lado, representam um reconhecimento pela ciência oficial de muitos pressupostos do nosso trabalho, tais como a autorregulação, a unidade funcional entre corpo e mente, a influência dos processos corporais sobre a atividade psíquica. Por outro lado, são inúmeros os desafios e questionamentos colocados à nossa frente, pois esses novos conceitos trazem uma forma diferente de entender o funcionamento da mente humana que coloca em cheque noções tradicionais incorporadas às teorias e práticas das várias escolas reichianas e neorreichianas.

 

Palavras-Chave: Inconsciente, Psicanálise, Processos corporais.

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Biografia do Autor

Ricardo Amaral Rego, Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica

Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP(1976) e mestrado em Mestrado em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da USP(1987). Doutorando em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica. ric.rego@uol.com.br.

Referências

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Publicado

2018-06-01

Como Citar

Rego, R. A. (2018). O Novo Inconsciente. REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL, 5(7), 16–17. Recuperado de https://psicorporal.emnuvens.com.br/rlapc/article/view/70