Estratégias Clínicas para o Tratamento do Trauma em Psicoterapia Corporal
Resumo
Podemos citar como princípios centrais de compreensão e tratamento em Psicoterapia Corporal de pacientes traumatizados: O tratamento do trauma está intimamente relacionado à atenção e intervenção nos sinais e comportamentos não-verbais do sujeito. De acordo com a neurociência, os efeitos do choque traumático são produzidos e regulados por estruturas subcorticais (sistema límbico, cérebro reptiliano e sistema nervoso autônomo), de maneira que uma psicoterapia estritamente verbal se mostra insuficiente e pouco eficaz, pois trabalha com elaborações de pensamento que ativam estritamente áreas do neocórtex. Nessa perspectiva, métodos e técnicas que mobilizem o campo somático são imprescindíveis para reativar e processar as respostas de estresse congeladas na musculatura e nos tecidos, possibilitando a expressão emocional necessária para o estabelecimento de novas conexões cerebrais e modificação dos sintomas associados ao trauma. O trabalho corporal deve centrar-se numa atitude oposta à análise do caráter. Os autores enfatizam que a relação terapêutica deve primar pelo cuidado, segurança e vínculo, com atenção aos movimentos espontâneos surgidos do corpo do paciente, proporcionando-lhe experiências reparadoras sem reativar o núcleo traumático. Assim, deve-se trabalhar na perspectiva da construção e reconfiguração de defesas de um ego frágil, em substituição à atitude clássica de confrontar e dissolver a estrutura rígida de caráter. Os sintomas defensivos devem ser encarados como os recursos possíveis que o paciente conseguiu configurar para sobreviver ao trauma. Na maioria dos casos, os autoresargumentam que atitudes como: relutância, dissociação, evitação do contato, faltas não se referem à resistência transferencial clássica, mas sim à desconfiança e medo que os pacientes sentem de ser novamente expostos ao trauma na relação terapêutica. Em contrapartida, com o estabelecimento de uma relação de confiança e com o andamento do processo psicoterápico, o terapeuta precisa atentar para a dificuldade que os pacientes exibem em manter o padrão de melhora, por estarem apegados à estase energética e ao medo de vivenciar a vida em sua excitação corporal. Faz-se imprescindível o terapeuta propiciar ao paciente a contenção e reforçamento das sensações de prazer que possam advir dos trabalhos corporais. O terapeuta deve acreditar nos recursos psicossomáticos internos que o paciente possui para se curar do trauma e encará-lo como um processo de aprendizado e evolução da capacidade de enfrentar os desafios do mundo. O organismo possui uma sabedoria fisiológica de retorno ao equilíbrio homeostático e, nesse sentido, o terapeuta deve assumir o papel de facilitador desse processo, cujo tempo e gradação acontecem de maneira singular para cada paciente. O terapeuta, nesse sentido, precisa acreditar no pressuposto reichiano da autorregulação, no qual a ação terapêutica deve facilitar o reequilíbrio natural do organismo, de forma a propiciar uma circulação energética que foi estagnada pelo evento traumático. Assim, a unidade psicossomática que ficou congelada no estado de tensão e carga (regulados pelo sistema nervoso simpático), gerando os sintomas decorrentes da estase energética, deve ser mobilizada para a descarga energética e o relaxamento mecânico (regulados pelo sistema nervoso parassimpático), dando lugar a uma pulsação, um maior contato com as forças internas egoicas e uma melhor elaboração/superação do trauma.
Palavras-Chave: trauma psicológico, psicologia corporal, psicoterapia, técnicas clínicas
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