O Corpo nas Relações Raciais: subjetividade na interrelação entre negros e brancos

Autores

  • Maria Cristina Francisco International Foundation for Biosynthesis-IFB

Resumo

A noção de raça nos humanos é um conceito moderno, envolve história, poder, relação e conflitos. Vivemos um Brasil de raças em desigualdade social, gerando sofrimento físico e emocional no indivíduo e sociedade, marcados pela dominação do escravismo colonial, mantendo brancos com privilégios e negros discriminados, estabelecendo uma hierarquia racial. A dominação controla o corpo na dependência e subjugação. A abolição em 1888 não contemplou a reparação dessa injustiça com políticas públicas. Nos segmentos sociais através do silêncio, da surdez e da cegueira tenta-se esquecer desse crime. Um corpo desumanizado com feridas ancestrais, tenso, pode ser resgatado hoje na psicoterapia como palco de intervenção com exercícios corporais neorreichianos de Alexander Lowen e David Boadella. Para Wilhelm Reich a organização social com sua ideologia adoece o indivíduo. As técnicas ampliam a respiração, aliviam tensões e possibilitam a autoexpressão do corpo. A autonomia passa pelo resgate corporal. Restringir as interações na verticalidade racial estreita o pensamento, não há diálogo (desenvolvimento de ideias), pois a condição está alinhada profundamente na posição do outro superior no ambiente. Somos todos impactados na reprodução de valores. É imprescindível a consciência social, subjetiva e política das questões raciais para ser gerador de mudança dessa realidade desigual. A técnica corporal tem trazido benefícios evidentes: um corpo vivo, com expressão, com voz mais ativa e um olhar amoroso. A Psicologia ao se comprometer com a consciência, a investigação da problemática no processo das relações raciais, visibiliza os efeitos psíquicos dessa desigualdade e torna-se agente transformador.

 

Palavras-chave: corpo, cor, sofrimento psíquico, raça, psique.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maria Cristina Francisco, International Foundation for Biosynthesis-IFB

1 Psicóloga, especialista clínica, Certified Bioenergetic Therapist - CBT pelo Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo-IABSP (filiado ao International Institute for Bioenergetic Analysis-IIBA), psicoterapeuta somática pelo Instituto Brasileiro de Biossíntese-IBB-SP (associado à International Foundation for Biosynthesis-IFB), membro da diretoria do Instituto AMMA Psique e Negritude, membro da diretoria da Federação Latino Americana de Análise Bioenergética-FLAAB. São Paulo – SP, Brasil. macrisfran@uol.com.br

Referências

ALBERTINI, P. Na psicanálise de Wilhelm Reich. 1ª edição. São Paulo: Zagodoni Editora Ltda, 2016.

ALMEIDA, S. L. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte - MG. Grupo Editorial Letramento, 2018.

ALVES, J.P & CORREIA, G.W.B. Além das quatro paredes – bioenergética social. Recife. Libertas Editora, 2015.

BOADELLA, D. Correntes da Vida – Uma introdução à Biossíntese. 3ª Edição. São Paulo. Summus Editorial, 1985.

BOECHAT, W. (org.). A alma brasileira: luzes e sombra. (Coleção Reflexões Junguianas). Petrópolis, RJ. Editora Vozes, 2014.

CHAPLIN, J. P. Dicionário de Psicologia. Lisboa. Publicações Dom Quixote, 1981.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Relações Raciais: Referências Técnicas para atuação de psicólogas/ os. Brasília: CFP, 2017.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra, 1987.

GAIARSA, J. Â. O Olhar. São Paulo. Editora Gente, 2000.

GELEDÉS – INSTITUTO DA MULHER NEGRA. Colorindo memórias e redefinindo olhares: ditadura militar e racismo no Rio de Janeiro. Área de Direitos Humanos. 17/12/15. https://www.geledes.org.br/colorindo-memorias-e-redefinindo-olhares-ditadura-militar-e-racismo-no-rio-de janeiro/?gclid=Cj0KCQjwsvrpBRCsARIs AKBR_0L7d9n1pojx4a6oZ-M3V3w9Z4a2Uo9L0igoJcHYMpC2YeADfqMTREaAtsn EALw_wcB. Última visualização em 29/07/19.

GONÇALVES FILHO, J. M & DIAS, J. Racismo e Preconceito: subjetividade e identidade. São Paulo. Revista CEDHEP - Sujeitos, Frutos e Percursos, Jovens Facilitadores de Práticas Restaurativas, 2016. https://ceapg.fgv.br/sites/ceapg.fgv.br/files/cdhep_-_sujeitos_frutos_e_percursos.pdf. Última visualização em 05/08/19.

KILOMBA, G. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. 1ª edição, Rio de Janeiro. Cobogó, 2019.

LEARY, J. D. G. Post Traumatic Slave Syndrome: America’s Legacy of Enduring Injury and Healing, Oregon, USA. Uptone Press, Milwaukie, Copyright c 2005, 2017.

LEVINE. P.A. Uma voz sem palavras: como o corpo libera o trauma e restaura o bem-estar. São Paulo, Summus, 2012.

LOWEN, A. Bioenergética – 8ª. Edição. São Paulo. Summus Editorial, 1982.

LOWEN, A. Alegria (a entrega ao corpo e à vida), 2ª edição, São Paulo. Summus Editorial, 1997.

MUNANGA, K. Negritude: usos e sentidos. 3ª edição. São Paulo. Autêntica Editora. Publicação Digital, 2015.

NOGUEIRA, I. B. Significações do corpo negro. (Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo), 1998.

REICH, W. Análise do Caráter. São Paulo. Editora Martins Fontes, 1989.

SANTOS, G. A. A invenção do ser negro: um percurso das ideias que naturalizaram a inferioridade dos negros. São Paulo. Educ/Fapesp e Rio de Janeiro. Pallas, 2002.

SAWAIA, B. B. & PURIN. G. T. (orgs). Silvia Lane: uma obra em movimento. São Paulo. EDUC-Editora da PUC-SP, 2018.

SCHUCMAN, L. V. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na Cidade de São Paulo. 1ª edição. São Paulo. Annablume Editora, 2014.

SCHUCMAN, L. V. Famílias inter-raciais: tensões entre cor e o amor. Salvador. Editora da Universidade Federal da Bahia – EDUFBA, 2018.

SCHWARCZ, L. M. & STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. 1ª. Edição. São Paulo. Companhia das Letras, 2015.

SCHWARCZ, L. M. & GOMES, F. (orgs). Dicionário da escravidão e liberdade. 1ª. Edição São Paulo. Companhia das Letras, 2018.

SOUZA, N. S. Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro. Edições Graal, 1983.

UOL NOTÍCIAS. Repressão aos negros. Documentos mostram como a ditadura espionou o movimento contra o racismo com agentes infiltrados e perseguições. Reportagem Carlos Madeiro. Maceió. https://noticias.uol.com.br/reportagens-especiais/ditadura-militar-espionou-movimento-negro-reprimiu-e-infiltrou-agentes/ index.htm#repressao-aos-negros. 31/03/2019. Última visualização em 29/07/2019,

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

__________. Pensamento e Linguagem. 4ª edição. São Paulo. Martins Fontes, 2008.

Downloads

Publicado

2019-11-05

Como Citar

Francisco, M. C. (2019). O Corpo nas Relações Raciais: subjetividade na interrelação entre negros e brancos. REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL, 6(9), 179–202. Recuperado de https://psicorporal.emnuvens.com.br/rlapc/article/view/90

Edição

Seção

Relato de Experiência